As dores de uma mulher quando se torna mãe

Imagem de Jerzy Górecki por Pixabay

Muito se fala no lado bom da maternidade, o quanto é lindo ser mãe e ter alguém para chamar de filho, cuidar e amar. Mas esse papel de extrema responsabilidade também tem o seu lado obscuro. Precisamos falar mais dele e desromantizar a vida materna. Há muito tempo venho pensando em falar desse assunto, mas não sabia como e quando, até que senti que chegou a hora. A dúvida de falar disso era pelo simples medo de ser julgada ou mal interpretada, pois hoje estamos mais sujeitos à isso hoje em dia e dependendo de como nos expomos a probabilidade disso acontecer é grande. Mas acho que se falarmos do lado dolorido da maternidade podemos, quem sabe, ajudar de alguma forma quem acabou de se tornar mãe.

Quando engravidei, os primeiros sentimentos foram de medo e insegurança. Graças ao acompanhamento excelente que tive durante o pré-natal, consegui trabalhar estas questões em mim, que são comuns em muitas mulheres quando se deparam com a notícia de que serão mães. Com o tempo, o medo e a insegurança deram lugar à ansiedade: a vontade de ter minha filha nos braços, de cuidar dela e vivenciar tudo que a maternidade permite só foi aumentando a ponto de hoje eu achar que poderia ter aproveitado mais o nove meses de gestação. Até situações como trocar a primeira fralda de cocô, segurar a neném pela primeira vez no braço eu aguardava ansiosamente. Pois bem, eis que finalmente Helena  nasce. A primeira noite na maternidade eu literalmente vi o dia amanhecer. E não foi por causa das demandas da neném, que mal se mexia e fazia barulhos, pois a natureza é tão incrível que até para a vida intrauterina nós somos preparados aos poucos e nessa fase recém-nascida ela se despertava aos poucos para o mundo aqui fora.

Lembro da minha mãe preocupada ao me ver com os olhos estatelados durante a noite inteira. Ali mesmo no hospital eu tive umas oscilações desde achar que tinham trocado minha filha durante alguns exames até achar que a minha mãe estava completamente fora da casinha. Cheguei a pensar que eu ia morrer ao ver minha filha sendo segurada pelos avós durante o banho. Passei a duvidar até que a Helena não estava sendo bem cuidada pela minha mãe, que cuidou de quatro filhos e que é PHD em dar banho, pôr para arrotar e fazer dormir. Mas ela foi uma mulher e ser humano incrível! Com muita empatia e sabedoria abstraiu os meus comentários, dedicando-se à neta com todo amor e carinho. Tive crises de choro do nada várias vezes. Muitas, escondidas. Como eu podia falar o que estava acontecendo comigo se não entedia direito?

Alguns meses se passaram e numa tarde enquanto almoçava me deparei com a série de documentários O Começo da Vida (aliás, recomendo para quem não viu ainda). Os episódios, com declarações de pais, educadores, psicoterapeutas, me serviram como uma luz. Me identifiquei com relatos de várias mães e isso me ajudou a me libertar de algumas dores que eu mal podia entender o porquê elas estavam dentro de mim, algo mais complexo do que imaginava. Era muito mais profundo do que insegurança ou medo, era também algo biológico (lembrando que os hormônios de uma grávida estão no alto e quando acontece o parte eles despencam drasticamente). E não parava por aí. Há evidências e os médicos afirmam que a nossa experiência materna e traços da nossa personalidade estão associados ao que vivemos no útero das nossas mães. E mais: ao que nossas mães viveram no útero de nossas avós também. Com o tempo, acho que fui me cobrando menos, entendo os meus limites e aprendendo com a nova vida. Os hormônios também foram se ajustando. Lia muito, conversava com minha mãe e irmãs e, embora não fazia terapia nessa época, acredito que teria me ajudado muito.

Foi assistindo a esse documentário que eu descobri a expressão ‘baby blues’, que são emoções ocasionadas pela queda dos hormônios, oscilando entre tristeza e melancolia. Segundo a American Pregnancy Association, entre 70% a 80% das mães experimentam algum tipo de sentimento negativo ou mudança de humor após o nascimento do bebê. Normalmente, os sintomas do baby blues começam nos primeiros dois a três dias após o nascimento do bebê e pode durar até duas semanas.

Uma reportagem recente no UOL aponta o aumento de mulheres com depressão após o parto na Rússia. A matéria reforça a importância de tratar o assunto com mais cautela não só naquele país mas no mundo. Para isso, a família e a sociedade devem estar preparados para receber a mulher que acabou de se tornar mãe. Dar acolhimento é tudo de que nós precisamos para lidarmos com a nova rotina.

 

Sintomas do baby blues:

  • Sensibilidade emocional;
  • Constante vontade de chorar;
  • Ansiedade;
  • Insônia;
  • Impaciência;
  • Medo;
  • Oscilação de humor.
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