Nas livrarias a gente fica até atordoada com tanto título focado em como sermos mães experts na criação. Quem ama, educa!, Disciplina Positiva, Comunicação não-violenta e por aí vai… No mundo das telas, a oferta também é grande, centenas de páginas indicam mil e uma maneiras de como “ajudar o filho a ter autoestima saudável”, “como aprender a se comunicar com a criança de forma bem-sucedida”, “como fazer e não fazer para o filho não dormir mais na sua cama”… Informações de todos os lados surgem a todo instante. Por muitas vezes caem como uma luva – eu mesma já dei várias googladas na tentativa de achar respostas para birras da Helena. Com tanta facilidade fica difícil até filtrar o que chega pra gente.
Em meio ao desgaste mental que é educar, se aprisionar em algum método é pedir para embarcar numa canoa furada, já que exercer esse ofício é um processo contínuo de aprendizado e transformação e não existe uma fórmula exata. Cada pessoa é única, cada criança também. O que se aplicou uma vez pode não servir mais. Estamos o tempo todo mudando as estratégias desse jogo incessante. E se buscamos educar para a paz, liberdade e respeito mútuo não é seguindo caminhos das teorias inexoráveis que atingiremos esse objetivo, até porque nossos valores e instintos falam mais alto no momento que precisamos agir rápido.
Já estamos criando os filhos com nossas maiores forças, dando o nosso melhor, imagine se a gente ficar nessa automutilação para ocupar o lugar inalcançável da perfeição? Não há sanidade mental que aguente. Nos grupos das redes sociais dá pra perceber o tanto de mães exaustas à beira da loucura. A tão falada síndrome de burnout ganhou a versão materna e invadiu os lares. O estado de esgotamento no ambiente de trabalho detectado pelo psicanalista alemão Herbert Freudenberger radicado nos Estados Unidos começou a ser estudado pela psicóloga belga Moïra Mikolajczak. Na reportagem sobre o tema no bebe.com.br (clique aqui para ler a matéria), Juliana Benevides, psicóloga clínica e perinatal, diz que o que contribui para esse quadro é que a maioria das mulheres é submetida ao esgotamento porque se espera que elas estejam preparadas para serem mães, profissionais e donas de casa. E isso vai acumulando a sensação interna de que a vida está anulada. “pois nada do que fazem é para elas, não há um momento de ócio”, afirma.
Desde os primórdios sabemos que a perfeição humana não existe. Sem que a gente perceba, querer atingir o estado de mãe extraordinária não nos leva a lugar nenhum a não ser à exaustão mental, além de colaborar para a imagem romantizada da maternidade. E vamos combinar que tudo de que não precisamos é viver nesse cenário de ficção enfadonho, mas sim encarar de peito aberto as dores e as fraquezas que vêm no pacote em ser mãe? Só assim atingiremos o ápice do universo particular maternal de cada uma. Hoje é possível participar de comunidades destinadas a destrinchar os pontos mais sensíveis que envolvem a maternidade. É o caso, por exemplo, do Mulheres Visíveis, Mães Possíveis, criado para promover encontros entre mulheres com o propósito de dividir experiências e aprender umas com as outras.
Embora tocar nesse solo onde residem os fracassos e as culpas nos cause medo, assumir o risco de encarar os nossos monstros é importante e necessário.
Se silenciar pelo medo de falhar, algo que é tão humano, desperta mais transtorno do que qualquer outra coisa. Além do mais, evitar o erro inibe a ação e o impulso de explorar novas ideias, estimulando a cultura do cancelamento. Penso que agora, em plena Quarta Revolução, com novas tecnologias surgindo a cada piscar de olhos, é que devemos colocar os nossos medo no bolso e aproveitar toda a oportunidade de transformação que o ecossistema do conhecimento digital oferece.
Tudo bem que nessa caótica era do excepcional somos pressionados a atingir a doce ilusão da perfeição. E olha, até que sob os holofotes dos nossos espectadores conseguimos sustentar a nossa melhor versão, mas será que estamos sendo honestos com a gente ao se deixar levar pela sociedade do espetáculo onde quem dá mais show sai na frente com mais pontos? O filósofo francês Charles Pépin afirma que estamos chegando ao fim desse ciclo de obsessão pelo sucesso. Em seu livro As Virtudes do Fracasso, ele defende que não há sucesso sem o fracasso. Pépin diz que as falhas são inerentes ao ser humano e que somos capazes de chegar muito mais longe quando as enxergamos e as corrigimos. Ele diz que muitas vezes precisamos errar repetidamente até nos sentirmos deprimidos e nos aproximarmos do que realmente pretendemos.
Diante desse olhar, viver uma maternidade real sem tanto peso, aceitando os fracassos como uma forma de aprimoramento, só vai nos deixar mais felizes e realizadas. A propósito, você já parou pra pensar qual foi o seu fracasso que te levou a uma grande realização?!
Bjs