Mães e desempregadas, três mulheres são exemplos de lideranças de ações voltadas para os impactos da Covid-19 entorno de suas comunidades

Elas não são CEOs de grandes empresas como também não lideram países, mas estão à frente de ações dedicadas ao próximo, salvando vidas em um cenário tão catastrófico de crise econômica e sanitária no mundo

Falar com essas três grandes mulheres me acendeu a lanterna – que talvez nunca mais se apegue — do quanto somos sempre capazes de fazer mais, de doar sem nada em troca. Também tocou profundamente minhas emoções e ampliou minha capacidade de admirar e encontrar inspirações sem limites.

Depois de um longo papo por whatasapp, combinei de terminar minha conversa com Vanessa de Oliveira (36 anos e três filhos) por telefone. Muitas vezes uma entrevista começa por escrito e termina na fala. Você quer se aproximar ao máximo do entrevistado e pegar detalhes que a frieza do digital não permite.

Presidente da ONG Kuka Legal, Vanessa relata com a voz que denuncia sua paixão pelo que faz. Sua história em ajudar a comunidade do Flamenguinho, em Osasco (SP), começou em meados de 2007, quando um casal desconhecido acompanhando de uma moradora abordou ela e sua irmã para saber se podiam ajudar no cadastro de 250 crianças para receber roupas, brinquedos e sapatos de natal.

“Nós ficamos muito felizes, fizemos essas inscrições e no mês de Dezembro de 2007 foi realizada a primeira festa da nossa ONG com entrega de roupa, calçado e brinquedo”, conta. É com essa mesma empolgação do começo do trabalho, cujo propósito é ajudar crianças e adolescentes em situações vulneráveis proporcionando ferramentas para o melhor desenvolvimento delas como o esporte, que Vanessa acorda cedo todos os dias para distribuir marmitas e cestas básicas para famílias.

Atualmente, por conta da crise causada pela Covid-19, a ONG está com as atitidades voltadas para essa ação, dominuindo assim o índice da fome em comunidades como a que Vanessa mora.

São em torno de 200 famílias cadastradas e até semana passada haviam sido entregues 70 cestas básicas e 74 kits de produtos de higiene. Além disso, ela e sua equipe distribuem todo dia 300 marmitas doadas pelo Sesi de Osasco para 87 famílias.

“Com as dificuldades que enfrentamos na vida aprendemos a gostar de gente, de cuidar dos outros, de conhecer cada história, e cresceu a vontade de deixar a nossa marca para fazer deste um mundo melhor”, revela num tom emotivo.

E apesar de todas as dificuldades em conseguir apoiadores nessa iniciativa, Vanessa não desiste. Antes de acontecer a pandemia, ela utilizava a quadra de uma escola da região para promover o futebol às crianças integrantes da sua ONG.

Esse mesmo amor ao próximo é o que faz Tatiane Cavalacante, 34 anos, deixar o confinamento na sua casa, depois de cuidar dos oito filhos, para oferecer ao menos uma refeição às cerca de 400 pessoas que moram na comunidade Muinho, em São Paulo. A ação acontece através da parceria entre ONG Novos Sonhos e Bom Prato e a previsão é continuar durante a pandemia.

“Eu amo ajudar, levanto cedo todo dia. Gosto de estar no meio do povo, são experiências que você leva para o resto da vida”, reforça. Cuidar das pessoas sempre foi seu forte – seu trabalho antes de ficar desempregada era numa creche – e durante esses 13 anos que mora no Muinho sempre arranja uma forma de acolher o próximo.

Todo dia às 17h30 ela abre a igreja Assembleia de Deus para receber as pessoas que muitas vezes só terão aquela refeição fornecida naquele espaço. “Quando meus filhos eram pequenos, meu marido tinha problema com drogas e fui ajudada por muitos do meu em torno”, conta Tatiane.

Infelizmente, muitas pessoas que estão em locais demarcados pela pobreza e escassez de coisas básicas sofrem da falta de apoios e acabam tendo relações direta ou indiretamente com as drogas. Assim foi o caso da Marcela Ferreira, de 39 anos e com cinco filhos.

Há oito anos sem usar craque, ela conta que um dos seus papeis quando acolhe mulheres para ter uma condição de sobrevivência, com um lugar para dormir e comer, é mantê-las longe das drogas. “Na minha vida esse trabalho é muito importante porque me lembro que assim como tiveram pessoas me deram as mãos outras também me disseram que eu não tinha mais jeito, e só não existe jeito para a morte”, relata.

Dedicada a tirar pessoas das ruas e a levá-las para espaços desabitados e teoricamente abandonados, Marcela vai dia sim dia não no viaduto Rudge, no Bom Retiro, um dos locais onde acontece uma das ocupações. “Aqui temos até segurança que recebe salário para não deixar entrar estranhos entrar”, conta.

Sobre a rotina no local, ela diz muita alma boa para por ali para deixar cestas básicas e cobertores. No entanto, sempre precisa de comida e produtos de higiene. “A intenção é poder realizar o sonho de cada um conseguir ter um teto. É muito ruim ficar na rua e não ter para onde ir”, revela.

Pois, como ela mesma diz, enquanto houver vida há esperança!

De cima para baixo, Tatiane, Vanessa e Marcela com a família e os filhos
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Os benefícios dos óleos essenciais em meio à quarentena

oléo essencial com flores e sabonetes
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Já há algum tempo eu ensaiava experimentar óleos essenciais — substâncias lipossolúveis e voláteis extraídas das células das plantas em forma de gotículas para ajudar no bem-estar e na saúde. Daí quando a pandemia veio à tona aproveitei a deixa para explorar as ações desses produtos de frascos tão pequenos que a gente chega a não dar nada, mas, pasmem, que podem carregar até 300 substâncias diferentes.

A prática baseada no uso de óleos essenciais tem o nome de aromaterapia, e, apesar de existir há milhares de ano, até hoje os cientistas estudam seus benefícios. Os efeitos positivos são tantos que o movimento do uso destes vidrinhos “mágicos” tem crescido entre pessoas que curtem opções de tratamentos naturais e em alguns centros médicos, que complementam tratamentos convencionais com óleos essenciais. É o caso do Hospital Europeu Georges Pompidou, na França, que utiliza os produtos em pacientes de cirurgias torácicas durante o pré e o pós-operatório.

Extraídos a partir do que existe de mais potente de dentro da planta, podem ser criados de uma única espécie ou se resultar de composições mistas. “Além de ajudar na harmonia do funcionamento do corpo, contribuem para uma boa saúde física, emocional e espiritual.”, diz Gislene Lemos, consultora dos produtos e aficionada pelo assunto. Ela faz questão de dizer que há um ano não frequenta mais prontos socorros. Atenta à saúde, continua fazendo seus exames periódicos e possui uma coleção desses blends em casa para qualquer tipo de sintoma.

Mas e aí, como a gente usa? Pode tomar e colocar umas gotas na água? Dá pra passar no cabelo? Pode na pele? Perguntei tudo isso pra ela porque sou curiosa e se não faço perguntas não sou eu.

Gislene diz que os compostos podem ser aplicados sobre a pele, por meio de massagens, banhos e compressas, adicionados em um difusor ou dependendo da função do óleo pode ser inalado direto do frasco, “o que potencializa a eficácia já que o nariz está associado à parte do nosso cérebro que controla as emoções”, diz.

Alguns podem ser até ingeridos. Neste último caso não são todos óleos essenciais que podem ser consumidos pela boca. Em tempos tão difíceis onde sensações de ansiedade, medo, irritação acabam sendo mais comuns, esta pode ser uma boa opção para buscarmos melhorar várias questões do corpo e da alma. Algumas mães assim como eu se renderam aos óleos e, embora eu seja nova no assunto, estou adorando o resultado!

Segundo Gislene, a aromaterapia para crianças pode deixá-las mais tranqüilas nesse período em que todo mundo fica mais agitado, além de ajudá-las a ter um sono mais tranqüilo, a ter mais foco e contribuir com o bom funcionamento do sistema imunológico.

Pensando nisso, separamos 4 óleos essenciais que podem ajudar nessa quarentena. 😀

Insônia e ansiedade

Um dos mais famosos, o óleo de lavanda tem toque amadeirado e doce ao mesmo tempo. Afeta diretamente o sistema emocional, nervoso e cardiovascular. É bastante indicado para melhorar o sono e baixar a bola no estresse. Aplico de uma a duas gotas no meu travesseiro e no da minha filha, é perceptível como o sono dela fica com mais qualidade.

Problemas respiratórios

Um deles é o Peppermint, mistura de pimenta com hortelã, com frescor maravilhoso. Indicado para casos de sintomas respiratórios, quando percebo que minha rinite atacou aplico uma gota nas mãos e aspiro.

Para amenizar o medo

O sálvia-esclaréia possui propriedades sedativas e calmantes. É recomendado inclusive para tratar desequilíbrios hormonais, problemas menstruais e circulatórios.

Harmonia do lar

Óleos cítricos como o de tangerina são os mais recomendados, segundo Gislene. Seu aroma refresca os sentidos, ajuda a acalmar a mente e de quebra eleva o humor, o que pode ajudar a criar uma atmosfera de felicidade, e quem não quer ficar assim na quarentena?!

 

 

Como consumir conteúdos em tempos de pandemia

A crise mundial causada pela Covid-19 mostra, entre outras coisas, que não temos controle quase nem dos nossos pensamentos, que dirá das notícias e dos conteúdos que invadem nossos celulares.

Denominada “infodemia”, a enxurrada de informações que chega em whatsapp, instagram, twitter, facebook pode esgotar a gente nesse olho do furacão em que estamos vivendo e tentar acompanhar todos os dados que saem a cada minuto é pedir pra ser massacrado dentro dele.

Não precisamos ficar alienados do que acontece, mas penso que chegamos num momento em que decidimos como consumir e processar todas as informações densas que chegam até a gente. Conversei como Alceu Martins, mestre e doutorando pelo programa de Psicologia Experimental da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em psicoterapia comportamental, para falar sobre como podemos absorver as notícias sem pirar.

1// ACESSE AS FONTES DE NOTÍCIAS POR UM TEMPO LIMITADO

“Tendo em vista que o consumo de informação é importante para que possamos tomar as decisões mais apropriadas para nossas vidas, ainda mais em um momento de grande instabilidade sanitária, política e econômica, é fundamental para a manutenção da saúde mental, principalmente, para evitar crises de ansiedade, a escolha do consumo da informação em somente um período do dia.”, diz o especialista.

2// FAÇA UMA “TRIAGEM” DO QUE CONSUMIR

De acordo com Alceu Martins, pessoas que sempre trazem notícias ruins, o pronunciamento de autoridades e a vinheta do plantão de notícias podem desencadear no organismo reações parecidas com aquelas provocadas pelo medo, ou seja, a famosa ansiedade. “O contato contínuo com esses estímulos que sinalizam ‘ameaças’ é muito danoso para a saúde mental. Podem resultar em crises de pânico, em rituais de checagem, compulsões, abuso de drogas, insônia, variações de peso, variações de humor como tristeza e irritabilidade.”, observa Alceu.

3// NÃO PRECISA SE ISOLAR DO MUNDO

Uma coisa é fato, a internet tem contribuído para não nos isolarmos de vez. E vamos combinar que é um benefício já que somos os “seres mais gregários e sociais que existem no planeta”? Por ser um instrumento de socialização, a internet tem nos ajudado a suprir a falta do contato físico em certo ponto. Portanto, não precisa sair deletando suas redes sociais e aproveita a vantagem que a tecnologia nos oferece em tempos de reclusão. Já imaginou como deve ter sido muito mais difícil para as pessoas seguir o isolamento em outras crises sanitárias como a gripe espanhola, no início do século XX, ou a peste negra, que devastou a Europa no século 14, ou a cólera em 1817?

4// MODIFIQUE O ÂNGULO DO SEU OLHAR

É difícil controlar nossos impulsos e sentimentos nesse período de tanta instabilidade e perdas, mas precisamos ter esperanças de que dias mais calmos virão. Talvez este seja o momento certo para direcionarmos o nosso olhar para outras coisas para além das notícias entristecedoras. Por exemplo, se voltar para as artes que, aliás, nunca se tornaram tão acessíveis como nos últimos tempos. Lives e podcasts enriquecedoras também são um bom caminho. Sorte e proteção! Bjs

 

 

 

Mãe resiliente em tempos de pandemia

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Na quarentena existe uma mãe, existe uma mãe na quarentena, e com a maior força do mundo. Ela levanta para arregaçar as mangas mesmo tendo feito hora extra durante a madrugada, organiza a desordem mesmo querendo nela se debruçar, ela se reinventa nas brincadeiras, na comida, na historinha.

É uma mãe que dribla a angústia preocupada em não transferir o sentimento pra filha, limitada entre as paredes sem poder correr feito uma criança livre. Que faz a coisa certa mesmo não tendo certeza o que é a coisa certa. Existe uma mãe que se culpa, mas que também tenta se aceitar, e repetidas vezes se culpa e se aceita.

Ela checa se a porta está trancada pelo menos três vezes no dia com a sensação de que o vírus chegará na casa a qualquer momento. Vence com brio a rotina, cumprindo mil e uma tarefas, mas sempre vai dormir com alguma coisa por fazer. Na quarentena tem uma mãe resistente, mas que derrapa no limbo dos números que entristecem o mundo.

E quando o bem-estar e a felicidade da outra pessoa sob suas asas são colocados em xeque ela resgata suas forças da onde nem sabe de vêm e faz brotar em segundos sorrisos que brilham e abraços que aquecem. Ela até evita acompanhar as notícias antes de encerrar o dia e mesmo assim sente disritmia e é atingida pela insônia. Fica em silêncio, medita, escuta podcast, cozinha, come, faxina, tenta fazer o mínimo de exercício nessa altura do campeonato, lê, assiste desenho.

Se sente perdida, preocupada, angustiada, com medo. E mesmo vivendo os dias mais intensos da sua vida ela sempre vai ter em mente que cair e não se levantar é uma opção nula porque existe uma causa maior que nutre essa força: o amor mais profundo e eterno.

Mãe, desejo que você se lembre da sua capacidade nata de recriar situações, de repensar no almoço, de planejar o dia, de lidar com imprevistos e de pensar no próximo com carinho. Em meio a um momento tenso de transformação, mentalizo que os padrões sejam dissolvidos pelo ralo de uma vez por todas. Assim, que cada uma viva a experiência do maternar à sua maneira.

Mas para isso é preciso se reconhecer no espelho. Então desejo que seja amiga dele, que se ame e se carregue no colo. Lembre-se: se você escolheu ser mãe, não optou por desistir e tampouco deixar de se doar em “tempos de cólera”. Estremeça para se solidificar. Ame para transformar. E já que nossos filhos um dia criarão asas e por isso são outra prova viva de que nada é estático e tudo transmuta, viva esse furacão da impermanência das coisas.

Parabéns a todas as mães que superam seus limites diários com muita coragem nessa fase de tantos turbilhões. Você pode até reconhecer suas falhas, mas não deixe de se abraçar e se perdoar.

 

A pandemia da beleza natural

Sempre curti um batom cheguei. Vermelho fechado, vermelho aberto, roxo, quanto mais pigmento, melhor ainda. Tenho essa ideia de que é uma ferramenta que confere um poder mais a nós mulheres, dá uma sensação de “eu estou segura de mim”, sabe?

Mass esses tempos em casa malemá ando passando um hidrante labial. O negócio tem sido lavar e hidratar bem o rosto, sem muita firula mesmo.

Imagem Kira Gyngazova (@kira.gyn)

Recentemente, a @exame publicou a matéria “o fim do efeito batom?” (clique aqui para ler) na qual mostra que o segmento de beleza deve ter uma retração por conta da crise de 2,5%, segundo a consultoria de inteligência de mercado Kline. Apesar dessa análise, um relatório da L’Oréal revelou que o setor de produtos para a pele aumentou 13%.

O fato é que a falta de interação social anda nos fazendo mudar certos comportamentos e usar menos coisas que sufocam a cútis é um deles, é o que ando percebendo. O importante é pele saudável e bem hidratada. Afinal, pra que pintar os lábios se agora temos um novo acessório de beleza — a máscara — que esconde a boca ahahah?

Esse perspectiva do mercado em relação à queda sobretudo de produtos de maquiagem como o batom vai na contramão da teoria de Leonard Lauder (presidente da Estee Lauder), que afirma que em tempos de incerteza financeira em vez dos consumidores (neste caso femininos) comprarem um artigo de luxo de maior custo como uma bolsa ou um sapato se voltam para os produtos mais baratos, como os cosméticos e o batom, o que possibilitam a gente se sentir atraente e proporcionam um sentimento de bem-estar.

A partir dessa teoria, Lauder criou o lipstcik index, indicador que por meio de estatísticas evidencia o aumento nas vendas de cosméticos (como o batom) em momentos de crises econômicas ou recessões. A expressão ganhou o ar da graça dias após o atentado de 11 de setembro, que, segundo a grife de beleza, as vendas do produto dispararam em um período onde as pessoas sofriam os impactos do ataque terrorista.

Hoje o nosso novo batom para ir às ruas ganhou versão em tecido colorido e estampado. E já que não tem outro jeito, bora se jogar nas oncinhas, zig-zag, poás, cores e afins, não é? Os olhos ganham até um brilho a mais com esse novo acessório, cês não acham? Bota um rímel bem pã, mas se quiser aparecer na live mais tcham mergulha na boca cheguei que continua valendoo.

A Zara britânica percebeu essa mudança das mulheres na forma de se olhar no espelho e quis mostrar em época de pandemia o poder da naturalidade em um ensaio pouco usual. Enviou as roupas da coleção nova para a casa de cada modelo e propôs que elas produzissem tanto seus próprios looks quanto suas fotos com o rosto bem fresh (veja a matéria na @marieclairemag aqui).

Ensaio da coleção da Zara com modelos em casa

Viva a beleza natural – assim agradece a pele! E vcs, como estão lidando com os cosméticos? Também tão na vibe fresh skin?

Crise de Covid-19 contribui para o aumento da violência doméstica no mundo

Imagem Unsplash

O início do texto diz de cara: o conteúdo só pode ser compartilhado por whatsapp. A mensagem em questão apresenta a campanha de uma grande empresa brasileira com a intenção de ajudar mulheres que estão passando por algum tipo de violência doméstica. Disfarçado de tutorial de maquiagem, o vídeo, enquanto mostra cenas do maquiador Marcos Costa ensinando como fazer o perfeito delineado, na verdade é um atalho para ajudar vítimas e se safar de seus agressores.

É triste aceitar, mas a violência doméstica – é importante destacar que ela abrange várias tipos desde física à psicológica e sexual – tem se alastrado em época de isolamento social. Um vírus catastrófico assim como o que causa Covid-19.

No Brasil, segundo a Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres, do começo ao fim do mês de maio desse ano (quando começou a quarentena) o aumento no número de registros no canal de denúncias 180 foi de 17%. A situação é preocupante. Por causa da pandemia de covid-19 a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo ampliou o serviço da delegacia eletrônica e passou a disponibilizar o registro de ocorrências de violência doméstica online (acesse aqui o link).

Recentemente, o governador do estado paulista, João Doria (PSDB), sancionou o projeto de lei da Patrulha Maria da Penha, que reúne uma série de ações para monitoramento da segurança de mulheres vítimas de violência doméstica.

Em outros estados como Rio de Janeiro e Bahia já existe o serviço que funciona como uma espécie de ronda militar destinada às mulheres vulneráveis. E apesar da patrulha já acontecer no estado fluminense, a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro revelou um crescimento de 50% nos casos de violência doméstica por lá durante os primeiros dias do período de isolamento.

Conviver por mais tempo do que o comum com o agressor pode custar a vida de muitas mulheres no mundo todo durante a pandemia. Na China, por exemplo, com mais de 50 milhões de pessoas confinadas desde 23 de janeiro na província de Hubei, os casos de violência doméstica estufaram. Em Pequim, o governo colocou à disposição mais de 300 linhas de assistência telefônica administradas por universidades ou associações ligadas ao assunto. Outro caminho criado na capital chinesa foi disponibilizar sessões de análise em streaming nas quais psicólogos respondem às perguntas dos internautas.

Outro país que decretou confinamento e tem sofrido com o aumento da violência doméstica é a Espanha, cujo crescimento nas ligações de emergência foi de 18% nas duas primeiras semanas de bloqueio comparado com o mesmo período do mês anterior.

A situação realmente desespera. Tanto é que as Nações Unidas pediram no domingo medidas urgentes para combater o aumento mundial dos abusos em casa. Em seu twitter, o secretário geral António Guterres apelou: “Peça a todos os governos que coloquem a segurança das mulheres em primeiro lugar ao responder à pandemia”.

Lívia Maria Guimarães, psicóloga e voluntária do Mapa do Acolhimento, ONG que reúne uma rede de terapeutas e advogadas para atender de forma gratuita mulheres que passaram ou passam por qualquer tipo de abuso (acesse o link da entidade aqui para saber mais), observa que o “isolamento social na pandemia aumenta as possibilidades de escapar de uma situação de abuso”.

Ela destaca que um dos fatores catalisadores da violência é o consumo de bebidas alcoólicas que, vale destacar, cresceu na pandemia. “Também podemos que outras questões de ordem econômica e social que podem influenciar o agravamento entre as relações. Mas o que acho importante ressaltar é que nada justifica atos de violência, de qualquer natureza, a qualquer grupo social”, destaca.

Lívia reforça: “a vítima não está sozinha e há muitas organizações engajadas em auxiliá-la neste momento. Acolhendo com amor às suas necessidades é possível sair dessa situação, pois ela já tem todos os recursos que precisa para acessar essa força de transformação. Mesmo durante a quarentena os serviços de apoio à mulher permanecem em funcionamento.”

Além do ligue 180 disponível para qualquer região do Brasil, em São Paulo o governo desenvolveu o aplicativo SOS Mulher (saiba mais aqui) que permite que mulheres tenham medidas protetivas concedidas pela justiça acionem o serviço 190 em caso de risco.

Os Centros de Referência de Atendimento às Mulheres são locais destinados ao acolhimento e acompanhamento de mulheres em situação de violência e quem sofre agressão pode procurar a unidade mais próxima. Movimentos e iniciativas criadas por autoridades e empresas permitem diferentes caminhos para buscar ajuda. E apesar da situação de vulnerabilidade nós mulheres remamos cada vez mais forte para que esse mal cesse.

“Estamos fazendo barulho! Os índices de violência aumentaram porque as denúncias ganharam volume e dessa maneira os movimentos e serviços se aprimoraram e este dado é positivo.”, diz Lívia. Do ponto de vista de outro ângulo e não da mulher, passou da hora de que os homens sejam colocados no centro da questão.

Chegou a vez de quem agride assumir a coragem necessária para buscar ajuda e mudar esse quadro. Como? Avaliando as causas do comportamento e desconstruindo a cultura da tal da masculinidade estereotipada. Lívia diz que consegue ver uma luz no fim do túnel e recomenda o documentário O Silêncio dos Homens, (clique aqui para assistir no Youtube). A obra aborda relatos de homens que buscaram ajuda para mudar posturas abusivas.

Como mulher, me incomoda muito dar de cara com as estatísticas e ficar quieta. Compartilhe esse conteúdo e ajude a chegar até quem precisa. #juntassomosmaisfortes

Como se planejar com as finanças na crise

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Momentos de incertezas acontecem muitas vezes sem hora marcada pra chegar. A atual crise por qual o mundo passa tem deixado a gente com dúvidas e inseguranças, inclusive a financeira. Se programar e manter o controle dos gastos é um caminho de certo alívio. Falei com Diego Maia, consultor de finanças pessoas da Plano, e ele deu alguns dicas pra gente não desesperar com as contas.

1// NÃO CONTRAIA DÍVIDAS DE EMPRÉSTIMOS

Seja de bancos ou particular e de preferência não fazer nenhum tipo de compras parceladas. Já que isso compromete os próximos meses e o futuro ainda é muito incerto.

2// MANTENHA UM PLANEJAMENTO COM OU SEM CRISE

“Essa é uma ferramenta que auxilia na tomada de decisão mais assertiva”, diz Diego, que destaca que os aspectos mais importantes de um planejamento de orçamento são:

– Mapeamento de todas as previsões financeiras (receitas, despesas fixas e variáveis, dívidas e parcelamentos);
– Linha do tempo mínima de 12 meses. Desse modo, se o mês fecha no negativo é possível então enxergar em quanto tempo esse “ciclo” se encerra e qual o tamanho dos esforços necessários para sair do negativo.

3// CONTROLE OS IMPULSOS

 Segundo o especialista em finanças, nós brasileiros temos enraizado na nossa cultura o imediatismo, isso atrapalha demais no controle e direcionamento de um orçamento. “Deixar de consumir coisas menos importantes vale também para todos os momentos”, observa Diego. Ele diz que a expressão que mais esclarece essa situação é “mas é só mais um cafezinho”. “Se fizermos as contas das economias em cafezinhos por dia durante 10 anos os valores são muito mais expressivos”, diz.

4// FIQUE ATENTA À EDUCAÇÃO ALIMENTAR DOS FILHOS

Se você acostumar a criança a consumir muitas besteiras como biscoitos recheados, salgadinhos e doces a conta do mercado no fim do mês ficará mais alta.  Outro ponto é habituá-la com as melhores marcas, “em um momento como o que vivemos agora fica mais difícil adaptar ao ‘mais barato’”, analisa.

5// COLOQUE EM PRÁTICA O QUE APRENDEU

“O melhor investimento que existe é o conhecimento, porém devemos ter cuidado para não assumir a condição de ‘obesidade intelectual’, ou seja, ter todos os aprendizados possíveis sobre finanças e não utilizá-los”, conclui o consultor financeiro Diego Maia.

 

 

Como aprender com a quarentena e evitar a vibe ruim

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Ressignificar. Provavelmente essa palavra é uma das mais usadas nestes dias. Afinal, não é pra menos, o momento oferece oportunidade para darmos um outro sentido a essa crise causada pelo surto da Covid-19.

Outro dia fiz um texto pra cá sobre como melhorar a imunidade a partir de alguns cuidados básicos como alimentação equilibrada e bom sono. Entrevistei a Dra Patrícia de Oliveira, que cuidou do meu pré-natal. Ela é médica especialista em antroposofia (abordagem espiritual holística que apoia e complementa a medicina convencional) e num papo comigo por whatsapp me fez lembrar de uma parte essencial para um sistema imunológico vigoroso: o lado espiritual.

Já pararam pra pensar que a forma como lidamos com o excesso de informação hoje em dia pode ter culminado num distanciamento de nós mesmos? Ta, esse é um ponto. O outro é que não podemos deixar essa fase passar sem revisitar o nosso interior e buscar um crescimento maior. É tirar leite da pedra mesmo, fazer do limão uma limonada — frases de efeito não faltam para a realidade atual.

Por isso nesse momento de caos e dor se voltar para si, para o que realmente tem significado é tão necessário. É o isolamento dentro do isolamento na tentativa de buscar a sabedoria que a vida louca pôde ter nos tirado e passou despercebido por nós.

Outro dia escutei a frase da Dra Ana Paula Cury, também médica antroposófica, num podcast maravilhoso (vou indicar o programa para vocês aqui na lista abaixo) que era: “adoecer tem a ver com a possibilidade de desenvolvimento e evolução do homem”. Charles Darwin nunca falhou com sua teoria da evolução.

Uma coisa é certa, nada tem sentido se não exercermos o nosso altruísmo. Esse momento de virada permite tempo para reconciliarmos com nós mesmos e olhar o próximo com mais amor.

Então como cuidar da parte espiritual sobretudo num momento de tanto medo e incerteza? Como trabalhar nosso pensamento já que é ele que cria a nossa realidade? Qual é a nossa parte que estamos deixando de fazer para um mundo mais saudável em todos os aspectos? São questionamentos que cada um por si só deve responder.

Elaborei uma lista de algumas coisas que tenho feito por mim. Espero ajudar vocês com ela de alguma forma.

// MEDITAR E PRATICAR YOGA

Desconheço outra forma mais completa que faz a gente parar e observar o corpo em diferentes nuances, desde a respiração até o equilíbrio e os próprios pensamentos. E não existe yoga sem meditação. Daí lacrou, né?! Aqui abaixo indico três perfis de professores que tenho utilizado bastante nesses dias de isolamento, basta clicar no nome para acessar a página de cada um!

Pri Leite

Namu

Carlo Guaragna

// ESCUTAR PODCASTS

Tem tanto conteúdo interessante nesse tipo de plataforma que eu poderia passar o dia listando alguns canais. Muitos deles podem ser uma forma de ajudar a gente a evoluir e cuidar do espírito. Assistam o episódio “Confiança e Altruísmo” do programa Mercúrio Antroposofia clicando aqui no qual a média antroposófica Ana Paula Cury participa e reflete sobre o como podemos crescer em meio a esse momento de crise. Escutem também aqui o “Coronavírus é o nosso karma coletivo?”, do Despertar Zen da monja Coen.

// PENSAR NO OUTRO

Minha vizinha está confeccionando máscara e distribuindo no bairro. Esse é um exemplo de como podemos ajudar com as ferramentas que possuímos. Comece cuidando do seu entorno, da família, dos amigos. Você pode contribuir com atitudes simples como comprar na quitanda do senhorzinho da esquina.

// CAIR NA MÚSICA

A arte com certeza é uma excelente saída para o confinamento. Lives para todos os estilos estão distribuídas na internet nas mais variadas plataformas. Basta afastar o sofá da sala e deixar o celular carregado pra diversão acontecer. Uma ferramenta que está fazendo sucesso e promete bombar hoje (quinta, 09/04) com a festa Je Treme Mon Amour, criada pela dupla de DJs Madruga e Tide, é a Boate Azoom, balada virtual dentro do aplicativo de reuniões Zoom. Essa edição online da Je Treme vai contar participação especial do DJ Felipe Cordeiro (clique aqui para saber mais).

// CONECTAR COM AS PESSOAS

Uma das maneiras de fazer isso é rezando. Não precisa seguir uma determinada religião, basta ter fé e projetar para o universo a vibração que você deseja. Cresci no budismo e, apesar de seguir essa filosofia desde que me entendo por gente e me simpatizar com ela, tenho feito correntes de orações de outras religiões. O importante é a energia e os pensamentos que agente emana.

// FAZER UM PANORAMA SOBRE O DIA

Refletir sobre os pensamentos e relações no fim do dia é uma forma de ter uma percepção maior sobre a gente mesmo. O que me fez agir sobre uma determinada situação? Como eu posso melhorar?

Você não precisa ser forte o tempo inteiro, se permitir desabar de vez em quando faz parte de se aceitar e se cuidar. Bjs

 

7 perguntas e respostas sobre o sistema imunológico em época de pandemia

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Conversei com a Doutora Patrícia Alves de Oliveira, ginecologista e obstetra do Numa (Núcleo de Medicina Antroposófica — abordagem espiritual holística que apoia e complementa a medicina convencional) da UNIFESP, para saber como podemos garantir uma saúde de ferro a nós e aos nossos filhos nesses tempos difíceis da síndrome COVID-19. Acompanhem por aqui:

1- Pessoas com boa imunidade tem menos chances de contrair a síndrome Covid-19?

Dra. Patrícia Alves de Oliveira – Pessoas com resposta imunológica adequada tem menor chance de desenvolver formas graves da COVID-19. No entanto, estudos apontam que o aumento da exposição ao vírus parece aumentar o risco de desenvolvimento das formas graves independente da imunidade. Portanto é necessário um conjunto de boas práticas: manter a imunidade através de nutrição e sono adequados e prevenir a contaminação pela higienização (principalmente das mãos) e isolamento social.

 2- Em quais situações a imunidade pode ficar mais baixa?

Quem usa medicações imunossupressoras (para tratar doenças autoimunes, no pós-transplante ou na quimioterapia) diminui a capacidade do sistema imunológico reconhecer e elaborar um “ataque “ antes do agente se aprofundar. A diabetes também causa isso.

Na gravidez as células do sistema imunológico ficam mais lentas porque se elas fossem ágeis a mãe reconheceria o bebê como um corpo estranho e o expulsaria. Por isso, gestantes são grupo de risco. Mas no coronavírus, por algum motivo, essa fragilidade não é relevante.

3- Existe alguma forma das grávidas se prevenirem?
Apesar de gestantes serem consideradas grupo de risco não está evidente o aumento de contaminação e complicações como foi observado na H1N1. Mas gestantes tem um resposta imunológica menor e mais lenta e tem riscos do desenvolvimento de co-morbidade obstétricas como a pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, etc. Isso aumenta a vulnerabilidade em mulheres grávidas. A forma de prevenção é a mesma orientada para a faixa etária com adicional atenção às gestantes que trabalham em locais que prestam serviços essenciais que devem ser deslocadas de postos com riscos de contato com pessoas contaminadas. Essa é orientação até agora, mas pode mudar a qualquer momento.

4- Como se deve cuidar do sistema imunológico?

O sistema imunológico se fortalece quando os ciclos são respeitados, ou seja, alimentos saudáveis em quantidades e horários corretos, horas de sono necessárias (nem a mais e nem a menos) e, se possível, associar a prática de meditação para compensar o excesso de exposição às informações durante o período de crise.

5- Existe alguma receita “caseira” comprovada para deixar o organismo mais forte e assim diminuir o risco do contato com a Covida-19?

Infelizmente não existe uma fórmula disponível com comprovação científica de aumento da imunidade. Há sim uma correlação clara de manutenção dos ciclos hormonais e imunidade principalmente  o controle adequado do cortisol (hormônio do despertar, do ‘estar alerta’) e a melatonina (responsável pelo sono). Deve-se ingerir carboidratos em quantidades adequadas, evitar substâncias tóxicas ao organismo presentes em alimentos processados e o consumo exagerado de bebidas alcoólicas. Essas práticas ajudam a equilibrar a resposta inflamatória do organismo, o que resulta em melhora da imunidade.

6- Há algum alimento que pode contribuir para a melhora da imunidade?

A introdução de alimentos com propriedades antiinflamatórias na dieta, como o gengibre e o açafrão da terra pode favorecer a uma mudança no relacionamento com alimentos e ter como consequência uma mudança na resposta inflamatória, mas não podem ser considerados isoladamente uma proteção adequada. Vale sempre o conjunto de medidas protetivas.

7- Cientistas da Universidade de Turim, na Itália, divulgaram um estudo em que a vitamina D pode ser administrada como uma ferramenta para reduzir os fatores de riscos causados pela doença. Ela pode, de fato, ajudar no combate ao coronavírus?

A vitamina D tem ação comprovada na mediação da imunidade, mas inúmeras possibilidades devem ser avaliadas. A suplementação é indicada nos casos de deficiência e não como uma proposta de tratamento. Ainda são necessários estudos para estabelecimento de rastreamento  de deficiência e utilização da vitamina D na Covid-19.

 

 

 

 

 

 

 

Meus dias de quarentena com minha filha: se perdoar e se transformar é fundamental

Era mais um dia de confinamento. Acordar positiva em prol de uma luta maior, o fim da disseminação da síndrome COVID-19, seria a primeira meta a cumprir. As demais eram parecidas com as de um dia normal: ler, tomar meu chá e olhar as tarefas do dia. A aula de yoga online se tornou um adendo na rotina de enclausuramento. Mas antes que eu terminasse essa “válvula de escape” Helena, minha filha, aparece na minha visão carregada de bichos de pelúcia e pedindo colo.

Como ela acordou mais cedo do que de costume, percebo a chance dela voltar a dormir. Não dou bobeira, vou com ela pro quarto até me sentir confortável para voltar ao meu refúgio espiritual. A segunda etapa do seu sono durou menos de uma hora, tempo útil para que eu voltasse pra dentro de mim antes de dar start às obrigações entre mãe, dona de casa e profissional.

Pensando aqui comigo, não sei onde eu estava com a cabeça quando achava que ia conseguir turbinar meu currículo com 500 cursos na internet disponíveis com apenas um apertar de botão, sem precisar de muitos esforços financeiros inclusive, já que grande parte deles é de graça. Mas, sinceramente, já me dou por satisfeita conseguir concluir dois deles que, com muita empolgação, fiz a inscrição.

Os dias com a Helena em casa sem pôr o nariz para fora tem sido intensos. A gente brinca, briga, se abraça, dança, ri, chora e dorme agarradinha.

E por mais que eu acorde achando que tudo vai ser diferente, que vou saber dominar minhas fraquezas e conseguir dar mais atenção a ela (pois sempre achamos que estamos em falta com nossos filhos) eis que esse esforço cai por terra em vários momentos.

Mesmo com uma rotina minimamente programada no meio de toda bagunça que acompanha um novo ritmo, lidar com notícias novas a todo instante é perceber um futuro cada vez mais opaco e estar certa de que a reprogramação acontecerá, sobretudo a da mente.

Penso aqui que se antes a maior parte da população como eu estava condicionada a viver pensando no futuro agora se vê obrigada a estar mais presente, seguindo um dia de cada vez como se, de fato, não houvesse amanhã. Aliás, essa aflição causada pela incerteza e o sofrimento coletivo de assistir pessoas passando necessidade e não ter sabão para lavar as mãos corrói qualquer ser humano que se encontra perdido na esteira dessa crise mundial.

Ficar confinada com uma criança que, à sua maneira, também sente isso tudo e não tem o mesmo entendimento como nós adultos pode abalar as emoções dos pais. Em doses bem homeopáticas, essa experiência pode ser parecida com a do resguardo no puerpério com a diferença de que, neste último caso, existe a previsão de um fim para o isolamento social, o que ameniza a possibilidade de um sofrimento.

Parar de olhar a panela no fogo pra fazer trança no cabelo da boneca pode ser o estopim para uma mãe preocupada e aflita com o presente e o futuro.

Diante das tragédias diárias que atingem o mundo ficar com o braço riscado de canetinha é nada, assim como a comida feita com carinho que é desprezada, só que tudo pode ser o fim para uma mãe à beira de um colapso nervoso. Ao mesmo tempo, seria até injusto esboçar qualquer insatisfação uma vez que há tanta gente em condições bem vulneráveis.

E de repente eu que sempre fiz de tudo para ser a minha melhor versão para a minha filha tenho mostrado, por várias vezes, o meu lado mais sombrio.