Comum entre gestantes, diabetes durante a gravidez precisa ser cuidada de forma rigorosa para não causar problemas ao bebê
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A diabetes gestacional, aumento no nível de açúcar no sangue na gravidez, costuma aparecer depois do segundo trimestre e, segundo Dra. Renata Assunção, médica especialista em medicina fetal, médica-assistente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein e coordenadora de Medicina Fetal do grupo GNDI, a diabetes gestacional acomete uma em cada seis gestantes.
Chamando a atenção para o crescimento da doença nas últimas décadas, relacionado ao aumento da obesidade nos adultos, ela destaca que o diagnóstico é fundamental para o acompanhando adequado das pacientes, tanto para o desenvolvimento do feto quanto para o momento do parto e pós-parto.
Além de correr o risco do óbito fetal súbito, pode acontecer a macrossomia fetal (quando o bebê atinge um peso maior que 4.000 g ao nascer), sem falar no risco de acontecer diminuição ou ausência da assimilação de oxigênio recebida pelo feto através da placenta e até quadros associadas à lesão de plexo braquial (conjunto de nervos que conduz sinais da medula espinhal).
Por isso, os testes de rastreamento para diabetes são fundamentais na gestação e fazem parte do programa de atenção e cuidado do período pré-natal, parto e puerpério do Ministério da Saúde e estão disponíveis em todas as unidades básicas de saúde. Dra. Renata conversou comigo sobre o assunto. Veja abaixo e boa leitura!
1- O que caracteriza uma diabetes gestacional e como a doença deve ser cuidada?
Dra. Renata Assunção: Diabetes gestacional é caracterizada pelo aumento dos níveis de açúcar na corrente sanguínea materna durante a gestação. Este excesso de açúcar atravessa a placenta e chega ao feto, podendo levar a alterações metabólicas fetais, tais como a macrossomia fetal, polidrâmnio (aumento da quantidade de líquido) e alteração nas células pulmonares que levam ao desconforto respiratório ao nascimento.
Para tratar a DG [diabetes gestacional] a paciente precisa mudar o seu hábito alimentar, retirando da alimentação principalmente os alimentos ricos em carboidratos, tais como bolos, pães, doces, refrigerantes e pizza.
2- Existe uma forma de prevenir a diabetes na gestação?
A diabetes gestacional ocorre devido alterações hormonais durante a gestação, que elevam a produção de hormônios que aumentam a resistência insulínica. Assim, não existe uma forma de prevenir a diabetes na gestação, sendo observado inclusive em pacientes muito magras.
No entanto, gestantes com sobrepeso ou obesas apresentam maior incidência da doença, pois já apresentam função pancreática no limite. Assim, recomendamos que as gestantes mantenham dieta equilibrada, exercício físico regular e, se possível, mantenham o ganho de peso normal para minimizar o impacto das alterações hormonais na gestação.
3- Quais são as complicações para a saúde da mãe e do bebê?
As mães diabéticas podem apresentar aumento dos níveis pressóricos na gestação. Mas, em geral, estas pacientes são assintomáticas, isto é, não apresentam nenhuma alteração durante a gestação . No entanto, a longo prazo, apresentam maior risco para desenvolver Diabetes Mellitus tipo II, forma mais frequente de diabetes em que o corpo não absorve a glicose de forma adequada.
Para o feto, no entanto, as repercussões [da doença] são muito significativas. O excesso de açúcar na corrente sanguínea materna provoca o aumento de açúcar na corrente sanguínea do bebê. O feto, para compensar este excesso de açúcar, aumenta a sua produção de insulina, transportando o açúcar para o interior das células, ganhando peso excessivo, levando a a macrossomia fetal.
4- Como deve ser a alimentação da gestante com diabetes gestacional?
Na gestação, a alimentação deve ser rica em proteínas e vitaminas provenientes das carnes, frutas e verduras. Se possível, preferir alimentos in natura – não processados ou congelados.
Os carboidratos podem ser ingeridos, porém em menores quantidades e preferencialmente os integrais. As gorduras das frituras e os alimentos enlatados devem ser evitadas, bem como os refrigerantes e sorvetes.
Lembrar sempre de avaliar o hábito alimentar, que não há necessidade de comer por dois, entendendo que é o melhor para o bebê e que a gravidez tem prazo de validade. Depois que o bebê nascer, elas podem voltar a se alimentar, eventualmente, dos junk foods.
5- Quem desenvolveu diabetes na gestação pode se tornar uma pessoa diabética futuramente? Por quê?
Pacientes que tiveram diabetes na gestação podem desenvolver diabetes mellitus tipo 2. Diversos estudos apontam que estas pacientes devem ter predisposição genética, ou, durante a gestação, apresentar o primeiro sinal de síndrome metabólica. No futuro, em decorrente de maior sobrecarga no organismo, associado ao envelhecimento celular dos órgãos e resistência insulínica, estas pacientes podem desenvolver DM tipo II.
6- Tem como a paciente que teve diabetes na gestação se prevenir de uma diabetes futuramente? Se sim, como?
Pacientes que tiveram diabetes gestacional necessitam de controle seis semanas após o parto para verificar se não apresentam diabetes. Caso não sejam diabéticas, o ideal é manter dieta sempre equilibrada, evitando os carboidratos industrializados e de farinha branca, mantendo sempre a atividade física.