A comunicação de antes e de depois da pandemia

Imagem Patrick Tomasso by Unsplash

Uma vez peguei um uber, há mais ou menos um ano, que no seu perfil do aplicativo ele enunciava: “quieto ou tagarela, a gosto do freguês”. Para uma comunicadora nata como eu (a lua em gêmeos é forte!), essa foi a deixa para desenvolver um papo do começo ao fim da rota.

É claro que no meio da conversa quis saber se ele era do tipo que não desperdiçava oportunidade de papear, como eu, ou se preferia fazer suas viagens na paz do silêncio. Sim, ele adorava um conversa fora, mas achava deselegante com o cliente abrir a broca sem que antes ele desse algum sinal de abertura para tal.

Antes de toda essa pandemia começar, vivíamos na euforia da necessidade de se expressar de diferentes formas nas mais diversas ferramentas ofertadas pela internet. Ter opinião sobre tudo era certificado de existência na terra. Compartilhar e responder conteúdos tornou-se parte de uma rotina galgada pela urgência da fala.

Com o andar da carruagem das notícias sobre a crise minuto a minuto e o decreto do isolamento, os holofotes se voltaram para o assunto que deixava o mundo todo doente. De repente, a comunicação que já vinha sendo gritante de todos os lados ganhou uma única tônica. Nesse contexto, todo mundo entrou no mesmo barco.

Enquanto metade do mundo produz conteúdo nas mais variadas formas a partir do mesmo ponto de partida, a outra metade digere e compartilha toda essa informação. Ao mesmo tempo, controlar os impulsos do que falar e publicar ficou mais tonificado, por assim dizer.

Talvez isso sirva para nos colocar de volta ao nosso centro, nos fazendo perceber que não somos tão imprescindíveis e ficar um pouco na reclusa, ao mesmo naquele estado de alerta sobre nossas ações, é saudável e benéfico. Oitenta dias depois do decreto do isolamento aqui no Brasil, seguimos dentro de nossas casas, mas com o detalhe de estarmos mais atentos em o que publicar e sem deixar de consumir o que nos interessa.

Observando o trajeto da comunicação durante esse tempo, produzir e compartilhar conteúdo ganhou uma responsabilidade social num grau maior. Presos em nossos “consultórios”, exigimos por manchetes que nos mostrem o que acontece lá fora, no entanto também queremos amenizar nossas dores (obrigada memes, gifs e afins).

Enquanto a vida “dos sonhos” ficou demodé (resultado de uma pegada que já vinha entrando em desuso antes disso tudo acontecer), a simplicidade e o acolhimento ganharam tons fortes na internet. Nessa enxurrada de conteúdo, a foto do céu azul ganhou mais significado do que o look baphônico.

Comentar parece que saiu do automático – é feito quando é para acrescentar. Embora não dê para generalizar, percebo essa consciência tanto em muitos que usufruem das redes sociais como ferramenta de trabalho quanto naqueles que as utilizam como uma distração.

Entrar no uber já não é mais a mesma cena de antes. A conversa pode rolar muito mais por olhar e uma escuta afinada do que pela linguagem proferida. Fico pensando como deve estar o status daquele motorista, talvez esteja em branco ou, quem sabe, ele tenha mantido a mesma mensagem de boas-vindas para mostrar que a troca do discurso pode acontecer quando de fato ela for imprescindível.

 

Publicidade